quinta-feira, 28 de julho de 2011

OS ABAS LARGAS



Projeto prevê restauração de raro longa-metragem filmado na região de Santa Maria nos anos 1960 - MARILICE DARONCO | SANTA MARIA, SEGUNDO CADERNO, ZERO HORA 27/07/2011

Verdadeiro mito do cinema da região de Santa Maria – pois não pode ser visto desde os anos 1960 –, o longa-metragem Os Abas Largas deve sair do limbo. O filme é uma produção carioca rodada em 1962 em Santa Maria e Itaara, então distrito santa-mariense. O presente do aniversário de 50 anos pode ser a restauração da única cópia em 35mm da produção que restou.

Um grupo diversificado luta pelo restauro há sete anos. Recentemente, um passo importante foi dado, estabelecendo contato com as herdeiras do filme, nos EUA – é que, sem autorização das filhas do diretor, Sanin Cherques, não é permitido mexer no material. Por isso, no ano passado, o filme não pôde ser restaurado pela Cinemateca Brasileira (SP), onde está a cópia.

Desde 2004, Therezinha Pires Santos, a viúva do ator santa-mariense Edmundo Cardoso, e Gilda Cardoso Santos, filha dele, começaram a batalhar pela recuperação do filme. Hoje, a equipe pró-restauração de Os Abas Largas conta também com o comandante do 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMon), coronel Wladimir Comassetto, a especialista em museologia do Centro Histórico Coronel Pillar (CHCP), Giane Escobar, a coordenadora do arquivo do CHCP, Maria Candida Skrebsky, e a produtora do Santa Maria Vídeo e Cinema, Juliane Fossatti.

– As herdeiras se mostraram dispostas a autorizar a restauração. Estamos esperando os documentos – afirma Therezinha.

Além dos 50 anos do longa, a Brigada Militar tem outro motivo especial para a restauração. Em 10 de novembro, o 1º RPMon completa 120 anos. Os Abas Largas teve roteiro inspirado no 1º Regimento de Polícia Rural Montada (1955 – 1974), com sede em Santa Maria e cujo efetivo usava chapéus de abas largas. Muitos policiais trabalharam como atores.

– O filme também é um documento histórico – aponta Maria Candida. – Naquela época, o governo do Estado queria propagandear seus costumes, seus valores e sua gente. Daí mostrar a Brigada Militar, com sua Polícia Rural Montada.

O coordenador de preservação da Cinemateca Brasileira, Millard Schisler, conta que a cópia foi levada para a instituição em 1989 pela extinta Lupa Filmes, de Cherques:

– A restauração é urgente. Há rolos de negativo de imagem que estão em bom estado, mas outros estão precários.

Assim que estiver com a autorização em mãos, a equipe pretende inscrever o projeto em editais públicos. São necessários cerca de R$ 100 mil para a restauração e R$ 80 mil para se fazer cópias em DVD, que serão distribuídas em escolas e instituições de Santa Maria.

Pouco se sabe de concreto sobre a trama, já que, há quase cinco décadas, o filme não é visto. A sinopse na Cinemateca Nacional diz apenas: “Exaltação da Brigada Militar, montada no Rio Grande do Sul”. Sabe-se que Os Abas Largas traz cenas de perseguição entre policiais e abigeatários. Depois que a quadrilha é presa, o longa termina com um desfile militar.

Fala-se que a trama reserva uma história de amor. Seria verdade? A partir da restauração, ela poderá ser recuperada.



Quem são os Abas Largas

Até hoje, o 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMon) é conhecido como Regimento Aba Larga. Deve-se ao fato de ter surgido a partir do Regimento de Polícia Rural Montada (1955 – 1974), em uma época na qual o policiamento do interior do Estado ficava a cargo da Brigada Militar de Santa Maria. Em 1961, o grupo ganhou este nome e teve o efetivo e a zona de atuação diminuídos, com a criação de dois outros regimentos de polícia montada.

Santa Maria em cena

> Ator e teatrólogo, Edmundo Cardoso (1917 – 2002) é conhecido dos santa-marienses graças a curtas e documentários sobre a cidade. Os Abas Largas é o único longa em que ele pode ser visto – se a restauração der certo. No filme, o ator comanda o grupo dos ladrões de gado que é perseguido pelos policiais.

> “Meu pai era uma referência na comunidade, recebeu a produção durante as filmagens. Lembro de assistir a alguns testes. Muita gente na cidade queria participar. Ele fazia questão de fotografar tudo, por isso há tantos registros guardados”, diz Gilda May Cardoso Santos, filha de Edmundo com Edna May Cardoso, sua primeira mulher, que também fez parte do filme.

> Em uma época na qual, segundo os cartazes do filme, “os homens sabiam lutar e as mulheres sabiam amar”, o cinema era uma novidade para a comunidade local. A possibilidade de participar do projeto levou muitos interessados para a seleção de elenco, que foi feita no Clube Caixeiral.

> O papel de mocinha do filme ficou com Irene Kowalczyck, que adotou o sobrenome artístico Kowak. Ela morava em Porto Alegre e era a vencedora do concurso de Mais Bela Comerciária em 1961. Desbancou uma atriz carioca que já estava escalada quando um produtor viu sua foto e a achou parecida com Elizabeth Taylor. O mocinho da trama foi o galã Sérgio Roberto. Conheça os personagens:

- Sérgio Roberto: interpreta Florêncio (galã e o mocinho, era um dos policiais conhecidos como Abas Largas)
- Irene Kowak (Kowalczyck): Mercedes (a mocinha, namora o galã de Florêncio)
- Edmundo Cardoso: Ricardo (fazendeiro que liderava a quadrilha de abigeato)
- Dimas Costa: Nicácio (sargento)
- Edna May Cardoso: Cassinha (fazendeira)
- Jorge Karan: Caburé (um dos contrabandistas)
- João Teixeira Porto: Garcia (fazendeiro que comprava gado roubado)
- Agenor Peretti: Gastão (fazendeiro)